quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Árvore Sefirótica

Muito cedo, eu quis ter um sistema destes e procurei em todas as direcções. Estudei o que ensinam as grandes religiões da humanidade, e o sistema que me pareceu ser o melhor – o mais vasto e, ao mesmo tempo, o mais preciso – foi na tradição judaica, na Cabala, que o encontrei: a Árvore Sefirótica, a Árvore da Vida.

A Árvore Sefirótica é, verdadeiramente, uma síntese do Universo, e para mim ela é a chave que permite decifrar os mistérios da Criação. Ela apresenta-se como um esquema muito simples, mas o seu conteúdo é inesgotável. E muitos dos episódios do Antigo e do Novo Testamento só podem ser interpretados à luz da Árvore Sefirótica. Os cabalistas dividem o Universo em dez regiões ou séfiras, correspondentes aos dez primeiros números (a palavra séphira, no plural séphiroth, significa numeração). Cada séfira é identificada por cinco nomes: o nome de Deus, o nome da própria séfira, o nome do chefe da ordem angélica, o nome da ordem angélica e, finalmente, o de um planeta.

Trata-se, portanto, de cinco planos distintos, e vós compreendereis melhor a sua natureza se souberdes que se pode estabelecer uma correspondência entre eles e os cinco princípios no homem: o espírito, a alma, o intelecto, o coração e o corpo físico; Deus corresponde ao espírito, a séfira à alma, o chefe da ordem angélica ao intelecto, a ordem angélica ao coração e o planeta ao corpo físico. 

Cada séfira é, pois, uma região habitada por uma ordem de espíritos luminosos que tem à cabeça um arcanjo, ele próprio submetido a Deus. É Deus, portanto, que dirige estas dez regiões, mas sob um nome diferente em cada região. Eis a razão por que a Cabala dá dez nomes a Deus. Estes dez nomes correspondem a diferentes atributos. Deus é um, mas manifesta-Se de modo diferente segundo as regiões. É sempre o mesmo Deus único, mas apresentado sob dez aspectos diferentes, e nenhum deles é inferior ou superior aos outros.

Os dez nomes de Deus são:

– Ehiéh 
– Eloha va Daath 
– Iah 
– Jéhovah Tsébaoth 
– Jéhovah 
– Elohim Tsébaoth 
– El 
– Elohim Gibor 
– Chadai El Haï 
– Adonai Mélekh 

As dez séfiras são: 

– Kéther: a Coroa 
– Hochmah: a Sabedoria
– Binah: a Inteligência
– Hesed: a Graça
– Géburah: a Força
– Tiphéreth: a Beleza
– Netsah : a Vitória 
– Hod: a Glória 
– Iésod: o Fundamento 
– Malkout: o Reino

Os chefes das ordens angélicas são: 

– Métatron: que participa no Trono 
– Raziel: segredo de Deus 
– Tsaphkiel: contemplação de Deus 
– Tsadkiel: justiça de Deus 
– Kamaël: desejo de Deus 
– Mikhaël: que é como Deus 
– H aniel: graça de Deus 
– Raphaël: cura de Deus 
– Gabriel: força de Deus 
– Uriel: Deus é a minha luz, ou então Sandalfon, que é interpretado como a força que une a matéria à forma. 

As ordens angélicas são:

– os Hayoth haKodesch: os Animais de santidade ou, na religião cristã, os Serafins 
– os Ophanim: as Rodas ou os Querubins 
– os Aralim: os Leões ou os Tronos 
– os Haschmalim: os Cintilantes ou as Dominações 
– os Séraphim: os Inflamados ou as Potestades 
– os Malahim: os Reis ou as Virtudes 
– os Elohim: os Deuses ou os Principados 
– os Bnei Elohim: os Filhos dos deuses ou os Arcanjos 
– os Kérubim: os Fortes ou os Anjos 
– os Ischim: os Homens ou a Comunhão dos Santos. 

Por fim, os corpos cósmicos, ou planetas, que correspondem ao plano físico, são: 

– Reschith ha Galgalim: os primeiros turbilhões 
– Mazaloth: o Zodíaco 
– Chabtaï: Saturno 
– Tsédek: Júpiter 
– Madim: Marte
– Chémesch: o Sol 
– Noga: Vénus 
– Kohave: Mercúrio 
– Lévana: a Lua 
– Aretz: a Terra ou, então, Olam Iésodoth , quer dizer, o mundo dos fundamentos. 

Os antigos, que só conheciam sete planetas, não colocavam na Árvore Sefirótica Úrano, nem Neptuno, nem Plutão. A Kéther eles faziam corresponder as nebulosas, os primeiros turbilhões – Reschith haGalgalim, e a Hochmah, o Zodíaco – Mazaloth. Pode manter-se esta atribuição, mas também se pode colocar Úrano ao nível de Hochmah, Plutão ao nível de Daath e Neptuno ao nível de Kéther. Os cabalistas chamaram a esta figura a Árvore da Vida precisamente porque o conjunto formado pelas séfiras deve ser compreendido tendo em conta a imagem da árvore. Como é feita uma árvore? 

Ela tem raízes, um tronco, ramos, folhas, flores e frutos, que são todos solidários uns com os outros. As séfiras estão ligadas entre si do mesmo modo, por vias de comunicação chamadas “sendas”. Estas sendas, em número de 22, são designadas pelas 22 letras do alfabeto hebraico:



As 22 sendas e as 10 séfiras são chamadas as 32 vias da Sabedoria, que, simbolicamente, estão colocadas em Hochmah.

As 32 vias da sabedoria ligam as 10 séfiras, cada uma com as suas 5 divisões; por isso, a Cabala diz que elas conduzem às 50 portas da Inteligência que são atribuídas, simbolicamente, à séfira Binah. Para abrir portas é preciso possuir chaves. E a verdadeira chave na Ciência Iniciática é o conhecimento do próprio homem. 

O Iniciado pode conhecer tudo porque se conhece a si mesmo. Em algumas representações, alguns frascos egípcios, por exemplo, o Iniciado segura na mão uma espécie de chave com uma forma idêntica ao símbolo de Vénus. Este símbolo representa, esquematicamente, o ser humano, com a cabeça, os braços afastados e as pernas unidas. O Iniciado possui a chave que lhe permite conhecer-se, e, ao conhecer-se, ele conhece todo o Universo e pode abrir as portas de todas as regiões.


A Árvore Sefirótica representa um sistema de explicação do mundo, de natureza mística. As suas bases são milenares. Evidentemente, os espíritos excepcionais que o conceberam não possuíam telescópios, nem sequer lunetas astronómicas. Pela meditação, pela contemplação, graças a uma vida interior intensa, eles conseguiram captar uma realidade cósmica que traduziram com a ajuda de imagens e relatos simbólicos. É esta tradição, sempre retomada, sempre meditada ao longo dos séculos, que, no essencial, chegou até nós. A Árvore Sefirótica não é, pois, uma descrição exacta do nosso Universo, o que explica a ausência de certos planetas, a posição do sol, etc...

Mas voltemos às dez séfiras. Porquê dez? Por-que este número representa uma totalidade, um conjunto acabado. Séfira, eu já vos disse, significa numeração. É a partir dos dez primeiros números que todas as combinações numéricas são possíveis. Deus criou primeiro dez números, as dez séfiras, e com esses dez números Ele pode criar outros números, isto é, existências até ao infinito. Os cabalistas mencionam, embora muito raramente, uma décima primeira séfira: Daath, cujo nome significa “Saber”. Eles colocam-na entre Kéther e Tiphéreth, mas ela não figura geralmente nas representações da Árvore Sefirótica.

Por fim, para lá da séfira Kéther, os cabalistas colocam uma região a que eles chamam Aïn Soph Aur: luz sem fim, que é a região do Absoluto, de Deus não manifestado. Para os cabalistas, o Universo é uma unidade de que a Árvore Sefirótica é a expressão perfeita. Mas, nesta unidade, eles distinguem várias regiões. Uma primeira divisão faz aparecer 4 planos.

De cima para baixo, esses planos são:

– Olam Atsiluth ou mundo das emanações, formado pelas séfiras Kéther, Hochmah e Binah 

– Olam Briah ou mundo da criação, formado pelas séfiras Hesed, Géburah e Tiphéreth ; 

– Olam Iétsirah ou mundo da formação, composto pelas séfiras Netsah, Hod e Iésod; 

– Olam Assiah ou mundo da acção, formado só pela séfira Malkout. 

Também aqui existe uma hierarquização entre o mundo de cima e o mundo de baixo, que tem igualmente a sua correspondência no ser humano. 

– A Olam Atsiluth corresponde Neschamah, quer dizer, o plano divino da alma e do espírito. 

– A Olam Briah corresponde Ruah, quer dizer, o plano mental, o intelecto. 

– A Olam Iétsirah corresponde Néphesch, quer dizer, o plano astral, o coração. 

– A Olam Assiah corresponde Guph, o corpo físico. Uma outra repartição faz aparecer três pilares. 



– À direita, o pilar da Clemência, denominado Yakîn, que é uma força positiva, activa e que compreende as séfiras , Hochmah, Hesed e Netsah . 

– À esquerda, o pilar do Rigor, denominado Boaz, que é uma força feminina, passiva, e que compreende as séfiras Binah, Géburah e Hod. 

– Por fim, o pilar central, que equilibra os outros dois, é composto pelas séfiras Kéther, Daath, Tiphéreth, Iésod e Malkout. 

Esta divisão exprime a ideia de que o Universo é governado pelos dois princípios antagonistas, o masculino e o feminino, a atracção e a repulsão, o amor e o ódio, a clemência e o rigor, e que, para se harmonizarem, essas forças devem encontrar-se no centro.

Omraam Mikhäel Aïvanhov
In Do homem a Deus - Séfiras e Hierárquias Angélicas - Cap.2

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Intro - Do homem a Deus, a noção de hierarquia


O que eu quero é dar-vos métodos que vos permitam realizar aquilo que é o objectivo de qualquer religião: estabelecer uma ligação com Deus.

Na terra, é impossível alguém dirigir-se a uma personagem importante sem passar por intermediários, mas imagina-se que é possível contactar o Senhor directamente!

Deus é uma energia de um poder indescritível e nenhum ser humano pôde alguma vez tocá-l’O, ouvi-l’O ou vê-l’O. Vós dir-me-eis que Abraão, Moisés e os profetas de Israel falaram com Deus. Sim, o Velho Testamento está repleto desses diálogos, mas, na realidade, isso é só uma maneira figurada de apresentar as coisas...

Deus é comparável a uma electricidade pura, que só pode descer até nós, através de transformadores. Estes transformadores são as inúmeras entidades luminosas que povoam os céus e a que a tradição chamou“hierarquias angélicas”. É através delas que nós recebemos a luz divina e que conseguimos entrar em relação com Deus.

Sim, é necessário saber que entre nós e o Senhor existe todo um caminho a percorrer, um espaço tão vasto que é impossível concebê-lo, e esse espaço não está vazio, compõe-se de regiões habitadas por entidades espirituais. Todas as religiões mencionaram, de uma forma ou de outra, a existência dessas regiões e dessas entidades. Para mim, foi a tradição judaica que deu, sobre elas, as noções mais precisas e mais claras. O cristianismo e o Islão herdaram, em parte, estas noções.

No Génesis é mencionado um símbolo desta hierarquia angélica, que faz a ligação entre o homem e Deus: a escada de Jacob. «Jacob chegou a um local onde passou a noite, porque o sol já se havia posto. Ele pegou numa pedra, da qual fez a sua cabeceira, e deitou-se naquele lugar. Teve um sonho. E nesse sonho, viu uma escada assente na terra e cujo topo tocava o céu. E eis que os anjos de Deus subiam e desciam por essa escada. E eis que o Eterno se encontrava acima dela.»


A tradição cristã, que retoma a tradição judaica, ensina a existência de nove ordens angélicas: os Anjos, os Arcanjos, os Principados, as Virtudes, as Potestades, as Dominações, os Tronos, os Querubins e os Serafins. Cada uma destas ordens angélicas é um aspecto do poder e das virtudes divinas, mas, sobretudo, elas representam para nós noções mais acessíveis que a palavra “Deus”. Para o nosso bom desenvolvimento espiritual, é necessário conhecermos estas entidades que nos ultrapassam, pois elas são para nós como faróis no nosso caminho.

In Do homem a Deus - Séfiras e Hierarquias Angélicas - Cap.1