quinta-feira, 7 de março de 2013

O QUE TODO O HOMEM POLÍTICO DEVERIA SABER - Parte 2


RUMO AO REINO DA PAZ


Capitulo 7 da Coleção IZVOR 208


O QUE TODO O HOMEM POLÍTICO DEVERIA SABER


II

Evidentemente, quando se escuta as minhas conferências e se está ao corrente de todos os acontecimentos que se dão actualmente no mundo, acha-se que os assuntos de que falo não têm nenhuma relação com a actualidade. As pessoas pensam: «Mas o que é que ele está para ali a dizer?! Se ele soubesse o que se passa na Polónia ou no Líbano, ou mesmo em França, não nos falaria de coisas tão insignificantes.» Ora aí está, ninguém compreende nada porque aquilo de que eu vos falo, pelo contrário, está na base de tudo: são métodos, meios, chaves, para resolver todos os problemas da existência.

Se eu me pusesse a falar-vos dos acontecimentos, de que serviria isso? Já há tanta gente que fala deles, sem que isso traga soluções! São apenas constatações, estatísticas, notícias, que jamais servirão para mudar alguma coisa, e só Deus sabe se são exactas! Deixo, pois, todas essas questões para os outros, e ocupo-me do essencial, daquilo que será válido eternamente. O ser humano tem um corpo físico, uma vontade, um coração, um intelecto, uma alma e um espírito, e a questão é esta: como é que ele deve trabalhar com estes elementos com os quais terá sempre que se haver? Sim, sejam quais forem os acontecimentos, o ser humano será eternamente colocado diante dos mesmos problemas: como pensar, sentir, agir, amar, criar…

Eu escolhi, pois, o assunto mais importante: o ser humano. Os outros não vêem esta importância; perdem tempo e energias com histórias que todo o mundo esqueceu pouco tempo depois. Sim, é extraordinária esta tendência que as pessoas têm para se interessarem sempre por coisas efémeras! Um novo governo, por exemplo: eis algo de que se ocupam com paixão… Mas quanto tempo vai durar esse governo? Alguns meses depois será substituído e eles terão de ocupar-se de um outro. E os partidos políticos… alguns aparecem e outros desapareceram ou mudam de nome, e, se não conhecerdes os seus nomes e os daqueles que estão à sua frente, ficareis muito mal vistos. Lá que não conheçais nada do mundo divino, isso não tem a menor importância, mas não estar a par das zangas entre os dirigentes políticos, do que eles dizem na televisão, isso é grave … Mas é miserável, é lamentável, o que é que essas histórias podem realmente trazer aos humanos para o seu verdadeiro futuro, isto é, para a sua paz, para a sua luz, para a sua imortalidade?

Direis: «Mas nós queremos ajudar o nosso país!» Não podeis ajuda-los dessa maneira, jamais se pôde ajudar os humanos deste modo. Imagina-se que se ajuda … Não, não são estas discussões e estas zangas políticas que podem ajudá-los. Tudo isso jamais trouxe coisa alguma, salvo descontentamentos, fúrias, greves, revoluções. O que é que a política melhorou? Os hospitais estão cheios de doentes, os tribunais cheios de processos, e muito em breve será preciso um polícia por habitante.

Encontrareis milhares de pessoas no mundo que colocam a política acima de tudo. Dia e noite, não se ocupam de outra coisa, mas que soluções encontram eles? Nenhuma, salvo a de pertencer a um partido. Pertencer a um partido, isso sim, é glorioso, é fantástico, toda a glória reside nisso. Mas este partido irá realmente resolver os problemas? Será que ele está no bom caminho, no caminho da verdade? Ninguém se preocupa com isso. Uma vez inscrita nesse partido, a pessoa sente-se inchada, forte, segura de si. Mas muitas vezes este orgulho não dura muito porque, se o partido não alcança a vitória, lá começam os seus membros a desinchar. Toda a sua glória não passa de uma bola de sabão.

Será que estais de acordo comigo? Não, não creio. Bom, como quiserdes. Mas ficai sabendo que todas estas tendências que se vê manifestarem-se neste momento são, mais ou menos, tendências para a anarquia. Se as pessoas pudessem dar-se conta do quanto estão afastadas da verdade! Mas elas gostam de se enganar, de ter ilusões, mesmo que isso não sirva para nada, elas agitam-se para darem a si próprias a impressão de que fazem alguma coisa. Pelo menos mexem, não ficam inactivas. Há que estar activo, é claro, mas que escolham ao menos a melhor actividade!

Ide pôr-vos a falar de política onde quer que seja, na rua, no comboio, e vereis: os jovens, os velhos, todos vos darão o seu ponto de vista. Meu Deus, vivendo uma vida tão limitada, tão pessoal, que ideias poderão ter? E se escutardes os dirigentes dos partidos políticos, ouvireis que cada um acusa o outro de trabalhar para a ruína da nação e a infelicidade dos cidadãos, ao passo que ele só pensa na pátria, não vive senão para a pátria. Será verdadeiramente sincero o que dizem, será verdadeiramente no interesse do país e dos compatriotas que eles falam, ou é por eles mesmos, para serem eleitos? Uma vez eleitos, logo se verá! Infelizmente, só se verá o que já se viu.

É porque ninguém se entende sobre este «interesse do país» que há tantos partidos, e cada vez há mais. Mas para que servem todas estas divisões? É preciso ver o conjunto, um único fim a atingir, um fim definitivo, e não deter-se num ponto particular e bater-se por objectivos que em breve serão substituídos por outros.

Eu não digo que todos estão enganados, não; cada um, do seu ponto de vista, tem razão. Mas, face ao conjunto, todos cometem erros. Um egoísta que não presta atenção aos interesses dos outros arranja as coisas de maneira a satisfazer os seus desejos e as suas cobiças, e fatalmente os outros censuram-no; e ele não compreende, porque para ele tudo era legal, tudo era perfeito, tudo era lógico. É o que se passa também com os partidos políticos. Tudo o que eles dizem é absolutamente verdadeiro, lógico, segundo o seu ponto de vista, mas, em relação ao ponto de vista da totalidade, ao ponto de vista universal, não é assim tão verdadeiro.

Quando uma criança quer qualquer coisa, está convencida de que tem razão e fica admirada por os pais se oporem aos seus desejos. Segundo o grau de compreensão a que a criança chegou, o que ela deseja é absolutamente lógico e legítimo! Mas eis que ela constata que outras pessoas, más, incompreensivas, lhe põem obstáculos, e fica revoltada. É exactamente o que se passa com o mundo inteiro. Cada um puxa a brasa à sua sardinha: «Na minha opinião é assim, na minha opinião é assado»… Sim, mas este «na minha opinião» é tão limitado! É preciso, agora, que cada um alargue a sua inteligência, seja capaz não somente de julgar as coisas segundo a sua opinião, segundo o seu ponto de vista e os seus desejos individuais, mas também de se colocar na situação dos outros para modificar ou completar- esse ponto de vista. Nessa altura, descobrir-se-á a verdade e ver-se-á que todos têm razão sem ter razão, isto é, têm razão do ponto de vista da sua compreensão, mas não do ponto de vista da colectividade cósmica.

Enquanto o homem não possuir uma consciência suficientemente ampla e impessoal, verá as coisas segundo ele mesmo, e a «sua» verdade não passará de um pedaço da verdade. Portanto, todos os partidos políticos se equivocam porque cada um só vê as coisas do seu ponto de vista. Se pudessem ver a realidade não estariam tão orgulhosos de si próprios. Todos aqueles que não tentam chegar a um ponto de vista universal se enganam, e, mais dia menos dia, será a própria vida a mostrar-lhe que estavam enganados.

Eu não sou contra a política, mas compreendo-a de uma maneira diferente. Se se dá o poder a alguém que não conhece e estrutura do ser humano, nem a maneira como ele está ligado a todas as forças cósmicas, como quereis que esse ser possa trazer algo verdadeiramente bom ao seu país? Uma vez que ele não realizou esta ligação em si próprio, como quereis que a realize para uma nação? Como é que um ignorante poderia instruir os outros, um fraco suportar as cargas dos outros, ou um impuro purificá-los? É impossível! Pois bem, também é impossível que os políticos façam a felicidade dos outros se não forem instruídos numa Escola lniciática: aí, ser-lhes-á ensinado que, para ser um verdadeiro homem político é preciso, antes de mais, conhecer profundamente o ser humano e a Natureza, respeitar as leis divinas e não ter qualquer ambição, qualquer paixão pessoal.

Todos falam em servir a pátria, mas, muitas vezes, isso não passa de palavras; é sobretudo na sua algibeira que pensam, no seu prestígio, no seu poder, e têm botas, unhas e dentes para abrir o caminho e chegar ao primeiro lugar. Ao passo que outros, que são mais competentes mas não têm estas botas nem estas unhas, ficam na sombra. Eu não sou contra a política, mas para mim a única política válida é a dos Iniciados, que estudaram a natureza humana, as suas forças, as suas fraquezas, as suas necessidades e as condições espirituais, afectivas, morais e económicas em que ela pode expandir-se. Enquanto não se possuir estes conhecimentos, a política só poderá conduzir a confrontos sangrentos.
E vede: mesmo Karl Marx, que é tão glorificado, tão enaltecido, tão seguido, pois bem, também ele falirá, dentro de algum tempo, com toda a sua companhia. Sim, porque não se resolve todos os problemas dos humanos pela luta de classes, pela colectivização dos meios de produção, etc. Lá que Karl Marx foi um génio, é certo, ninguém o pode negar, mas que ele não previu tudo, que ele não viveu uma vida divina, que ele não foi um Iniciado, também é certo. Eu reconheço que é necessário haver pessoas qualificadas em cada domínio da vida económica e social, mas acima de tudo é necessário que, à cabeça, estejam Iniciados, que talvez não saibam nada de tudo isso, mas que conhecem o essencial.

Estais admirados? Tomai o meu caso, para exemplo. Não existe na terra um homem que seja tão ignorante como eu no domínio da organização, da economia, das finanças. Eu não sei nada. Eu, que é que sei? Muito bem, uma coisa. Uma só, mas essencial: como fazer correr a água, é tudo. E a água depois encontrará o seu caminho. Nessa altura surgirá e desenvolver-se-á toda uma cultura: as plantas, os animais, os homens … E preciso fazer correr a água, sem se ocupar do resto. É o que eu faço há anos aqui na Fraternidade: ocupo-me de fazer correr a água, e depois sois vós, sim, vós que, como as plantas, as aves, as árvores, os animais, os homens, encontrais, cada um, o vosso lugar. Não me compete a mim encontrar-vos um lugar, não devo ocupar-me de tal. Por isso não tenho nenhum espírito de organização. Ocupo-me somente da água, porque se houver água as coisas organizar-se-ão por elas mesmas. E esta água é o amor, é a vida!…

Enquanto os homens políticos acreditarem que, para melhorar a situação, basta preparar uma boa organização, criar novas instituições, novas estruturas ou novos postos de trabalho, não chegarão a parte alguma, porque se esqueceram da água! Tudo o que eles puderem organizar exteriormente se revelará ineficaz, enquanto não se ocuparem de fazer correr a água. Por isso é necessário que haja no topo um ser que possua esta água, este amor, porque nessa altura todos os ramos de todas as actividades saberão como actuar a fim de contribuir para o sucesso do empreendimento.

Pode-se observar muito bem este fenómeno na quotidiana! Vós não sabeis exactamente como agir para concretizar aquilo que tendes afazer, mas gostais disso, gostais de o fazer, e então conseguis, por causa do vosso amor, porque o vosso amor, esse, sabe desembaraçar-se! Mas se não tiverdes esse amor, por muito que tenteis, nada feito!
Há mulheres que lêem todos os livros de cozinha e utilizam os melhores ingredientes, mas as refeições que preparam são intragáveis, porque elas não gostam de cozinhar. Ao passo que outras, sem jamais terem lido uma receita e com alguns ingredientes muito simples, não se sabe como é que elas se arranjaram, mas os seus pratos são suculentos. Isso é porque elas gostam do que fazem. Aí está, é o amor! Bem entendido, eu não sou propriamente um bebé que não compreende quão complexa deve ser a organização de um país. Sim, mas para que todo o conjunto funcione é necessário uma luz, é necessário um amor, é necessário que a água corra, e nessa altura todos serão inspirados e saberão o que devem fazer.

Vede o que se passa numa reunião em que várias pessoas se encontram para decidir sobre um projecto. Se essas pessoas tiverem amor umas pelas outras, compreender-se-ão, e, no fim da reunião, tudo estará como deve ser e o projecto realizar-se-á. Mas se elas vierem sem amor, jamais encontrarão soluções. É o que acontece frequentemente em muitas assembleias: não há amor, elas reúnem uma vez, duas vezes, três vezes… dez vezes, e nada sai dessas reuniões, a não ser mal-entendidos, querelas. Quando se vem verdadeiramente inspirado pelo amor, por vezes bastam cinco minutos para resolver problemas que, sem isso, permanecerão insolúveis durante anos.

Então por que é que os humanos são ainda tão cegos?... E depois julgam-se algo fantástico! Não, se não conseguem resolver problemas, não têm de que estar tão orgulhosos. Pois bem, devem ficar a saber que aquilo que os impede de encontrar a solução é a falta de amor. Mas eles não acreditam na força do amor. Crêem na força do intelecto, na força do espírito crítico, e é aí que se enganam, não se deve crer na eficácia dessas coisas, elas são até perigosas. Que ponham um pouco mais de amor nos seus encontros, nas suas conversas, apenas isso, e imediatamente os problemas serão resolvidos; todos partirão felizes e até admirados por ter sido tão simples.

Já tendes visto duas pessoas a discutir. Que fazem elas? Interrompem-se mutuamente, falam ao mesmo tempo e acabam por se matar uma à outra. Sim, porque não se ouviam uma à outra. Cada uma delas está de tal maneira imbuída de si própria que não quer ouvir a outra, e, instantes depois, elas enervam-se, não conseguem dominar-se e começam a engalfinhar-se. Realmente, as pessoas não são nem psicólogas nem pedagogas. Se fossem inteligentes, deveriam saber com antecedência que seria assim, e evitariam chegar a esse ponto. Um homem inteligente mostra, em primeiro lugar, muito amor, muita benevolência, muita atenção ao que se lhe diz, para despertar na outra pessoa algo de bom, e nessa altura pode resolver-se tudo.

Para terminar, dir-vos-ei que os dirigentes políticos, enquanto não forem instruídos na Ciência Iniciática, cometerão obrigatoriamente erros. O público que assiste aos seus debates fica maravilhado e aplaude: «Viu como fulano tal respondeu ao adversário? Oh, lá, lá! O que ele lhe disse! Como ele o desancou! Aquilo é que foi magnífico!» Mas um Iniciado que vê isto não fica maravilhado. Com cegos tudo pode passar, eles engolem tudo; mas com os Iniciados, não.

Então, não espereis grande coisa da política enquanto os políticos não tiverem estudado a Ciência Iniciática; surgirão cada vez mais dificuldades, choques, mal-entendidos, para os quais não encontrarão soluções. Sim, sou obrigado a dizer-vos a verdade, ainda que ela não agrade a alguns. Enquanto não se possuir esta Ciência que diz respeito ao homem, ao Universo e ao Criador, as soluções encontradas serão parciais, momentâneas, passageiras, e produzirão sempre inconvenientes, que não se soube prever.

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